Anarquimo

terça-feira, 8 de junho de 2010

POLÍCIA FEDERAL PRENDE MÃE E BEBÊ TUPINAMBÁ



A Polícia Federal prendeu na tarde de hoje, feriado de Corpus Christi, a índia Glicéria Tupinambá e seu filho de apenas (02) dois meses. Glicéria é liderança de seu povo e membro da Comissão Nacional de Política Indigenista – CNPI. Vinculada ao Ministério da Justiça, a CNPI tem entre seus integrantes representantes de 12 ministérios, 20 lideranças indígenas e dois representantes de entidades indigenistas. Na tarde de ontem, 2 de junho, Glicéria participou da reunião da CNPI com o Presidente Lula, oportunidade em que denunciou as perseguições de que as lideranças Tupinambá têm sido vítimas por parte da Polícia Federal no Sul da Bahia.

No dia seguinte, quando tentava retornar para sua aldeia, Glicéria – tendo ao colo o seu bebê de dois meses – foi detida ao descer do avião, ainda na pista de pouso do aeroporto de Ilhéus (BA), e diante dos demais passageiros, por três agentes da Polícia Federal, numa intenção clara de constrangê-la. O episódio foi testemunhado por Luis Titiah, liderança Pataxó Hã-hã-hãe, também membro da CNPI, que a acompanhava.

Após ser interrogada durante toda a tarde na sede Polícia Federal em Ilhéus, sempre com o bebê ao colo, Glicéria recebeu voz de prisão da delega Denise ao deixar as dependências do órgão. Segundo informações ainda não confirmadas, a prisão foi decretada pelo juiz Antonio Hygino, da Comarca de Buerarema (BA), sob a alegação de Glicéria ter participado no seqüestro de um veículo da META (empresa que presta serviço de energia na região). Esse juiz em entrevista concedida ao repórter Fábio Roberto para um jornal da região, se referiu aos Tupinambá como “pessoas que se dizem índios”. Mãe e filho serão transferidos para um presídio na cidade de Jequié, distante cerca de 200km de sua aldeia.

Desde que a FUNAI iniciou o processo de demarcação da Terra indígena Tupinambá as fazendas invasoras da terra indígena passaram a contratar pistoleiros, fazendeiros dos municípios de Ilhéus e Buerarema iniciaram campanhas difamatórias nas rádios e jornais locais, incitando a população regional contra os índios, o que resultou numa série de conflitos envolvendo pistoleiros, fazendeiros e indígenas. Como conseqüência da disputa pela posse da terra os Tupinambá respondem a uma série de inquéritos e processos criminais patrocinados pela Polícia Federal, numa estratégia clara de criminalização de sua luta legítima em defesa de seu território tradicional. Em decorrência dessa ofensiva de criminalização já estão presos os indígenas Rosivaldo (conhecido como cacique Babau) e Givaldo, irmãos de Glicéria que passa a ser terceira presa política Tupinambá.

A animosidade nutrida pela Polícia Federal em relação aos Tupinambá já se tornou crônica. No dia 23 de outubro de 2008, numa ação extremamente agressiva, a PF atacou a comunidade indígena da Serra do Padeiro, deixando 14 Tupinambá feridos à bala de borracha, destruiu casas e veículos da comunidade, a escola indígena e seus equipamentos, e ainda deteriorou a merenda escolar. Dois Tupinambá foram presos na ocasião. Em junho de 2009, após outra ação de agentes da PF juntamente com fazendeiros - numa ação de reintegração de posse -, sinais de tortura em cinco Tupinambá ficaram comprovados por exames de corpo de delito realizados no Instituto Médico Legal do Distrito Federal. O inquérito, levado a cabo pelo mesmo delegado que coordenou a ação dos agentes, concluiu entretanto pela inocorrência de tortura. Nenhum dos agentes foi afastado durante ou após as investigações. No dia 10 de março de 2010, numa ação irregular, a Polícia Federal invadiu a residência do cacique Babau em horário noturno (duas horas da madrugada), destruindo móveis e utilizando extrema força física para imobilizar o Cacique, que acreditava estar diante de pistoleiros, pois os agentes estavam camuflados, com os rostos pintados de preto, não se identificaram e não apresentaram mandado de prisão, além de proferir ameaças e xingamentos.

O Conselho Indigenista Missionário, preocupado com a integridade física e psicológica de Glicéria e seu filho, vem a público manifestar mais uma vez o seu repúdio ao tratamento dispensado por órgãos policiais e judiciais ao Povo Tupinambá. Reafirma seu compromisso em continuar apoiando a luta justa do povo pela demarcação de seu território tradicional e conclama a sociedade nacional e internacional a se manifestar em defesa da causa Tupinambá e pela imediata libertação de seus líderes.

Brasília, 3 de junho de 2010.

Conselho Indigenista Missionário – Cimi

Por uma democracia social com partidos políticos de outro tipo: ancestralidade e desenvolvimento - 4



Mikhael Guerdjikov, nascido em 26/01/1877, falecido em 18/03/1947, mais conhecido militante e referente da Federação Anarquista Búlgara, fundada em 1919. Esta federação foi modelo de organização de quadros vinculada às lutas de massas no apoio da libertação nacional contra a ocupação do Império Otomano.

recollectionbooks

08 de junho de 2010, da Vila Setembrina de Lanceiros Negros traídos por latifundiários no Massacre de Porongos, Bruno Lima Rocha

Concluímos esta pequena série de quatro artigos de difusão científica voltada para o pensamento político organizativo, apresentando tanto as raízes desse modelo de partido como também uma possibilidade de desenvolvimento orgânico do mesmo.

A ancestralidade do modelo de organização aqui desenvolvido

O modelo que apresentamos nesta série em particular e nas obras em geral não se trata de uma novidade para o universo da política. Se são novos ou inexistentes os estudos sobre o tema, se esta forma do fazer político não se transformara em objeto estudo, isto se deu devido à correlação de forças no interior das esquerdas, a passagem desta correlação para o campo acadêmico e da óbvia conseqüente ausência de transposição dos debates travados na esquerda mundial para o universo da cultura letrada e com bases cientificistas. Como já foi dito em textos anteriores desta série, este modelo aborda a organização política de militantes especificamente aderentes a um corpo ideológico-doutrinário. Por não ser de massas, em contraposição, está no formato de quadros, sem filiação aberta e cujo grau de compromisso dá-se através dos círculos concêntricos. Na estruturação interna, dentro da Teoria da Interdependência das 3 Esferas, a divisão a forma orgânica tem sua equivalência na esfera jurídico-político-administrativa.


domingo, 6 de junho de 2010

“Diego Giménez Moreno – Um Exemplo de Atuação Anarquista”

Negando a oportunidade de ter uma vida cômoda dentro da sociedade capitalista, a trajetória de Diego Giménez Moreno no movimento anarquista foi edificada com dedicação, coerência, força de vontade e muita coragem para lutar contra a violência, a repressão, a injustiça, as ditaduras (de direita e de esquerda) e toda espécie de obstáculos que se apresentaram no decorrer do caminho.

Viver clandestinamente, abdicar da companhia de seus familiares, abandonar seu país de origem, ser julgado e condenado a ser preso em campos de refugiados (construídos com dinheiro público), foi o preço que Diego teve que pagar por semear as idéias libertárias de igualdade e solidariedade humana.

Diego Giménez Moreno nasceu no dia 10 de abril de 1911, na Vila de Jumilla, província de Murcia. Filho mais velho de Maria Moreno Muñoz e de Diego Giménez Guardiola, seu pai era trabalhador rural e filiado a União Geral dos Trabalhadores (U.G.T.). Na residência familiar viviam também seu irmão (Roberto Giménez Moreno), suas irmãs (Ana Giménez Moreno e Maria Giménez Moreno, essa última ainda viva) e sua avó materna (Ana Muñoz Avellán).

Na infância Diego Giménez estudou em uma escola pública em Jumilla, onde havia aulas religiosas. Certa vez, o professor castigou fisicamente Diego por não ter respondido uma pergunta sobre o catecismo. Ao informar o episódio ao seu pai, Diego foi transferido para uma escola do sindicato, onde seu pai era filiado. Estudou até os 8-9 anos e foi ajudar seu pai no trabalho agrário.

Na seqüência, a família de Giménez fixou residência em Badalona (Barcelona-Catalunha), buscando melhores condições de trabalho.

Inicialmente, Diego (aos 12 anos) começou a trabalhar numa fábrica de velas, para ajudar seu pai que trabalhava na empresa francesa Cros de produtos químicos. Pouco tempo depois Diego já estava trabalhando na empresa italiana Metagraf, que reunia trabalhadores gráficos e metalúrgicos.

Nessa época, seu pai trouxe o livre “Manolín – Leyenda Popular” de Estéban Beltrán Morales (4ª edição, 1910, Espanha) e esta foi sua primeira leitura socialista.

Em 1928, Diego Giménez (com 17 anos) perdeu seu pai, que morreu aos 42 anos por intoxicação aos produtos químicos com os quais trabalhava e se tornou o homem mais velho de sua família, redobrando sua responsabilidade.

Após o final da ditadura espanhola (1923-1930) e das eleições de 14 de abril de 1931, com a vitória do Partido Republicano, surgiram diversas publicações de caráter anarquista, das quais Diego Giménez Moreno teve acesso, entre elas: La Novela Ideal (de Federico Urales, Pseudônimo de Juan Montseny), La Revista Blanca, El Luchador, Generación Consciente (posteriormente Estudios) e a partir dessas leituras sobre pedagogia libertária, medicina natural, educação ambiental, tecnologia, entre outros, tornou-se anarquista e começou a militar no Sindicato das Artes Gráficas, onde tornou-se tesoureiro, secretário e depois presidente do Sindicato.

Nas palavras do próprio Giménez: “Fui presidente do Sindicato das Artes Gráficas e isso não é um orgulho para mim! Não é um prêmio! É uma obrigação que eu tive no terreno do sindicalismo... Durante a guerra civil, tentei deixar meu cargo e não me permitiram. Naquela noite chorei... Chorei sim, na assembléia, porque vi que eles queriam que permanecesse ali”.

Em 1934, Diego se casou com Maria Roger Aguilar, e no ano seguinte nasceu seu primeiro filho Helios Giménez Roger.

Em 17 de julho de 1936, quando o exército do general Franco se levantou contra a República e Barcelona se insurgiu contra o golpe de Estado, Diego Giménez Moreno participou da revolução armada nas ruas.

No dia 26 de julho de 1936, o Sindicato de Barcelona proclamou a volta ao trabalho. Na fábrica onde Diego trabalhava (Metagraf) juntamente com cerca de mil operários, o patrão fugiu e nomeou-se um comitê autogestionário composto por um trabalhador de cada secção industrial, para dar continuidade ao trabalho fabril. Diego coordenou uma pequena secção na indústria de embalagens.

Em setembro de 1937, Diego Giménez chegou ao front de guerra, a 30 quilômetros de Zaragoza (capital de Aragão) na Brigada 21 da Coluna Durruti, setor Bajo Abril. O capitão, que era um amigo e companheiro anarco-sindicalista, queria enviar Diego para a Escola de Guerra em Barcelona e em três meses ele voltaria com grau de tenente. Diego comenta o episódio: “Eu falei para o capitão que ele sabia que nós não havíamos sido educados para isso e, portanto, não aceitei o convite. Hoje eu estaria recebendo um salário mensal de tenente, é um dinheiro, não? Mas eu não estou preocupado, eu fiz o que minha consciência anárquica me aconselhava”.

Segundo o próprio Diego, o setor onde ele estava “não era um lugar de luta constante porque não tínhamos armas suficientes para o enfrentamento. Não recebemos ajuda, nem fuzis, passamos meses nessa situação”. Posteriormente, esse grupo foi substituído pelas Brigadas Internacionais e a nova linha de defesa passou a ser em Montsec (Lérida), província de Catalunha. Diego fez parte de um grupo de defesa contra gazes na Brigada 21 da 26ª Divisão (antiga Coluna Durruti), que além de conservar o equipamento, treinava a utilização de máscaras, simulando situações de emergência, e transmitia esses conhecimentos para grupos de soldados em hora de descanso.

Em 20 de novembro de 1938, durante as homenagens do segundo ano da morte do anarquista Buenaventura Durruti, ao sair de madrugada para Barcelona, Diego foi ferido com um tiro e, após os primeiros socorros, levado para um hospital na cidade de Manresa (Bages-Barcelona). Foi justamente quando recomeçou a ofensiva franquista, chegando muitos feridos neste hospital.

Diego foi evacuado para o Monastério de MontSerrat (Bages-Barcelona), onde ficou por quinze dias e depois o levaram para Santo Hilário, recebendo a visita de sua mãe e esposa.

Em dezembro de 1938, com o avanço dos fascistas, Diego foi levado para o hospital de Ripoll (Barcelona-Catalunha), onde ficou mais 15 dias e seguiu para Puigcerda (Gerona-Catalunha), depois Bourg-Madame (já na França) e de trem até Auch (Gers-França), num quartel que tinha sido adaptado para um hospital.

No dia 31 de abril de 1939 (final da guerra civil espanhola), Diego foi enviado para o Campo de Refugiados Sept Fonds, e lá esteve (entre outros) com um companheiro de 16 anos chamado Juan.

Em Sept Fonds, pode manter correspondência com a família, porém, esteve o tempo todo mal alojado (não tinha leito para dormir, entre outras coisas) e tinha acesso a pouco alimento.

Durante alguns meses, participou de uma companhia de trabalho na construção de uma estrada de ferro entre as cidades de Le Mans (capital de Sarthe) e Le Loar, e outra nas proximidades de Bourdeaux (capital de Aquitania).

Em 1940, quando os alemães invadiram Bordeaux, Gimenez foi transferido para um campo de refugiados em Le Vernet (Ariège) e depois Melilesben, onde pode visitar os companheiros Fernando e Aurora, em Pamiers (Ariége).

Diego trabalhou ainda no rescaldo do rio Tet (sul da França) e na construção de uma central elétrica.

No dia 12 de fevereiro de 1942, Giménez saiu clandestinamente em direção a fronteira da Espanha. Sua companheira, Maria Roger Aguilar, havia lhe informado que a polícia espanhola não sabia de sua atuação sindicalista (naquela conjuntura social, participar de sindicato era considerado crime) e, portanto, não constava nenhuma punição contra ele.

Diego foi até a cidade de Figueras (Gerona-Catalunha), onde a polícia o levou algemado até um quartel de Barcelona. Ficou durante dez dias num Campo de Depuração em Reus (Tarragona-Catalunha) e foi libertado em 24 de fevereiro de 1942, quando pode novamente se reunir com sua esposa, seu filho e sua filha Luz Giménez Roger.

Em Barcelona trabalhou 10 anos em uma fábrica onde a carga horária chegava até 16 horas por dia. A situação econômica era muito difícil e mesmo com o trabalho de sua companheira, de seu filho (com 16 anos) e de sua filha (com 12 anos) não era o suficiente para superar as dificuldades.

No dia 16 de março de 1946, nasceu sua nova filha, Rosa Giménez Roger, e no dia 10 de abril de 1952, Diego resolveu embarcar para o Brasil com seu filho. Quinze dias depois, chegaram ao Porto de Santos.

Fixaram residência na Vila Santa Clara, na cidade de São Paulo, e em poucos dias, Diego e seu filho já estavam trabalhando.

Após oito meses, a esposa e as duas filhas puderam também imigrar para o Brasil.

Por intermédio de um amigo (Joaquim Vergara), Diego fez contato com a Sociedade Naturista Amigos de Nossa Chácara (que na época, era o local onde se realizava os Congressos Anarquistas no Brasil) e com o Centro de Cultura Social, desde então contribuindo e participando das atividades de ambos.

Entre 1972-1973, escreveu artigos para o periódico anarquista “Le Combat Syndicaliste” (Paris-França), com os pseudônimos de “El Buscador” e “El Exiliado”. E em 5 de outubro de 1975, escreveu e publicou em português (dividindo a autoria com seu irmão Roberto Giménez Moreno) o livro “Mauthausen – Campo de Concentração e de Extermínio” (tiragem de 2.300 exemplares), pela Ediciones HispanoAmericanas no Brasil.

Diego Giménez Moreno também proferiu diversas conferências em São Paulo (a maioria no Centro de Cultura Social) e em outras cidades paulistanas, sobre sua experiência libertária na guerra civil espanhola, assim como procurou sempre estar em contato com os jovens.

Um forte traço do caráter de Giménez é sua irrefutável autonomia, sendo adversário ferrenho do tabagismo e do alcoolismo. O vício constitui uma fraqueza de vontade e, por sua vez, o consumo de álcool e tabaco, além de prejudicar a saúde, fortaleça a indústria dessas drogas e do próprio capitalismo.

Nas palavras de Diego: “Ao comprar cigarro e álcool você está alimentando o patrão, que se aproveita de sua debilidade”.

Também é adepto do vegetarianismo, afirmando ter sido influenciado pelos escritos do dr. Isaac Puente Amestoy (C.N.T.– F.A.I.), na revista Estudios.

Assim como outros de sua geração, Diego segue um velho lema anarquista: “Enquanto vivermos sob o capitalismo, devemos consumir o mínimo necessário”.

Hoje, aos 96 anos de idade, Diego Giménez vive em São Bernardo do Campo (São Paulo-Brasil), e com o mesmo vigor que combateu os fascistas na revolução espanhola, combate agora um novo inimigo: o mal de Parkinson.

Marcolino Jeremias.

Livros que falam sobre a trajetória anarquista de Diego Giménez Moreno:

- “Mauthausen – Campo de Concentração e de Extermínio”, de Giménez Moreno, Ediciones HispanoAmericanas, São Paulo – Brasil, 1975;

- “Três Depoimentos Libertários”, Entrevistas com Diego Giménez Moreno, Jaime Cubero e Edgar Rodrigues, Editora Achiamé, Rio de Janeiro – Brasil, 2002;

- “Anarquistas: Ética e Antologia de Existências”, de Nildo Avelino, Editora Achiamé, Rio de Janeiro – Brasil, 2004.