Anarquimo

sábado, 2 de julho de 2011

Ogan do Seja Hundê é discriminado em programa de rádio

Roça do Ventura
Buda, apelido do ogan do Zô Ogodô Bogum Malê Seja Hundê, terreiro de candomblé jêje marrin de Cachoeira conhecido como Roça de Ventura, diz que foi discriminado pelo apresentador de um programa que diariamente é levado ao ar pela emissora Paraguaçu FM, de Cachoeira. Segundo ele, o apresentador o desqualificou como sacerdote e como indivíduo. Diz ainda que além das ofensas à sua pessoa, o locutor teria dito que o Seja Hundê é um candomblerzinho, cujos participantes são cariocas, paulistas e mineiro.

O motivo da ofensa foi porque Buda compareceu ao programa de rádio vestido de bermuda e camiseta, o que para o locutor era um traje inadequado para um ogan. Mas Buda contra-argumenta dizendo que o motivo foi porque ele foi denunciar as desobediências às determinações da Justiça impostas ao advogado Ademir Passos, que recentemente violou o espaço sagrado do terreiro ceifando árvores, soterrando a lagoa do orixá Nanã; enfim, desfigurando o sítio cultural afrorreligioso. O referido advogado, que é especializado em resolver broncas de prefeitos na Justiça, advoga para a prefeitura municipal da Cachoeira, e o programa de rádio é patrocinado com o dinheiro público, disse o ogan, que vai acionar a Justiça por reparações morais.. 

 

Blog do NNNE - UFRB

Historicamente a sociedade brasileira foi construída através de variados processos de subalternização do negro/a. Durante mais de três séculos, milhares de africanos foram tirados de sua terra de origem, para servirem de força de trabalho escrava no Brasil. Durante todo período colonial e imperial, a sociedade brasileira se sustentou através da escravidão negra, prática essa, que se fundava através de um cotidiano exercício da violência, coação, exploração e humilhação da população escravizada.

     Com o fim da escravidão legal no Brasil, em 13 de maio de 1888, o quadro de violências alterou-se, na medida em que as elites dirigentes, aparelhadas com as teorias racialistas, organizaram-se para recriar as hierarquias estabelecidas durantes os séculos de escravidão. Nesse sentindo, o Estado-nação brasileiro, foi construído através de políticas estatais, que visavam excluir e muitas vezes exterminar a população negra aqui existente, com projetos de favelização, programas de higienização, políticas de branqueamento e criminalização do negro/a e suas manifestações religioso-culturais. Mas, nós resistimos.
 
     Nos fins dos anos 20, o protesto racial emerge fortemente em São Paulo, propagando-se em outros estados da Federação; criam-se organizações, com base na identidade racial cujo objetivo é projetar os negros/as enquanto atores sociais. No final dos anos 40, o protesto reaparece no Rio de Janeiro, sob a forma de um ambicioso projeto cultural - Teatro Experimental do Negro - articulando-se psicodrama, valorização da tradição afro-brasileira e propostas políticas com vistas a interferir na reforma  constitucional.
 
     No final dos anos 70, uma nova onda de protestos, impulsionada por organizações negras de diferentes estados da federação, dão início à formação do Movimento Negro Unificado. Uma peculiaridade do Movimento Negro/a do Brasil, está no fato de que além de combater o racismo em todas as formas é preciso também desmistificar a idéia difundida de “democracia racial”, ideologia essa, diluída em toda sociedade brasileira, como constituinte de sua própria identidade nacional, dando um tom “harmonioso” às relações raciais.
 
     Na universidade o combate ao racismo perpassa por críticas ao conhecimento excessivamente eurocêntrico e pela organização da luta por acesso e permanência da população negra ao ensino superior. Fundamentados nesses eixos de atuação é que surge o movimento negro/a universitário na sua forma de núcleos estudantis. As pautas dos núcleos se somam às pautas gerais do movimento negro/a tendo como principal conquista destes, em nível nacional, a adoção de políticas de cotas para o acesso e permanência de estudantes negros/as. 
 
     Nessa conjuntura o negro/a passa a reivindicar o espaço político na universidade pública, propondo alternativas epistemológicas em favor da descolonização do conhecimento e o combate ao racismo na sociedade brasileira. É nesse sentindo, que estudantes da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, especificamente do Centro de Artes, Humanidades e Letras, reúnem-se em abril de 2009, e desde então, vêem se organizando de forma ativa e autônoma, com o intuito de discutir e militar em defesa das populações negras, o combate ao machismo e outras lutas em favor das maiorias subalternizadas. 
 
     O coletivo intitulado de Núcleo de Negras e Negros Estudantes (NNNE) tem como compromisso, combater o racismo, o machismo e todas e quaisquer formas de segregação, entendendo que essa ação de combate as discriminações é de extrema importância para construção de uma sociedade plenamente democrática.
 
    Nesse sentido, o NNNE é um coletivo de estudantes militantes que atualmente  desenvolve trabalho de base nas comunidades periféricas na cidade de Cachoeira-BA, além de constituir  uma rede de articulação com outros movimentos sociais como MST Recôncavo, MSTB, MOPEBA, MNU e comunidades Quilombolas da região. Somos maiss um elo da corrente inquebrantável do movimento negro contemporâneo.
 
Núcleo de Negras e Negros Estudantes da UFRB