Anarquimo

sexta-feira, 16 de julho de 2010

MOVIMENTO DOS PESCADORES E PESCADORAS – BAHIA


Carta das Comunidades Pesqueiras e Remanescentes de Quilombos de Santo Amaro BA, em repúdio a licença de localização do mega empreendimento turístico da empresa PROPERT LOGIC no Território quilombola da ILHA DE CAJAIBA

Vimos manifestar nosso repúdio a decisão do CEPRAM – Conselho Estadual de Meio Ambiente, que no dia 30 de Junho de 2010 de forma extremamente desrespeitosa aprovou o licenciamento de localização do empreendimento turístico da empresa internacional Propert Logic. Esta empresa de capital europeu pretende instalar um mega empreendimento hoteleiro na Ilha de Cajaiba localizada na foz do rio subaé e inviabilizar o modo de vida de milhares de famílias que historicamente sobrevivem dos recursos naturais existentes na ilha através do extrativismo de frutas ou da pesca artesanal.

Tanto o IMA – Instituto do Meio Ambiente como o CEPRAM ambas instituições ligadas a Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) não respeitaram os direitos das nossas comunidades previsto na constituição federal, através do artigo 68 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitória da Constituição Federal / 1988, bem como os demais decretos federais e convenções internacionais assinados pelo Estado brasileiro. Ou seja, mesmo tendo ciência de que o INCRA/BA já tinha iniciado o processo de elaboração do RTID – Relatório Técnico de Identificação e Titulação do território quilombola e cientes das recomendações da Fundação Cultural Palmares a SEMA não mediu esforços no sentido de se dobrar aos interesses de empresários estrangeiros legítimos continuadores do processo de colonização do território brasilei ro.

Além disso, a SEMA foi incapaz de reconhecer que as comunidades pesqueiras e quilombolas de Santo Amaro são vitimas de decisões politicas desenvolvimentistas que resultaram em profunda degradação ambiental e social na região, a exemplo da contaminação por metais pesados oriundos da fábrica de chumbo (capital francês) e da recente degradação ocasionadas pela fábrica de papel (capital japonês). Estes exemplos não foram suficientes para que a SEMA considerasse o principio da precaução ambiental estabelecidos nas constituições estadual e federal.
Este caso é mais um ato de racismo ambiental num contexto de governo dito de todos nós. Diferentemente do que se anuncia, licenciar um mega empreendimento turístico numa Ilha historicamente utilizada pelas comunidades para sua reprodução física e cultural, reafirma que o governo da Bahia continua subserviente aos interesses das grandes empresas internacionais e contra a luta das comunidades pesqueiras e quilombolas pela manutenção dos seus territórios tradicionais.

Tendo em vista, o fortalecimento da resistência das comunidades pesqueiras e quilombolas neste pais, convocamos as entidades dos movimentos sociais, especialmente aqueles comprometidos com a resistência negra, para participar da Audiência Pública com órgãos públicos estaduais e federais a ocorrer no dia 13 de julho de 2010, a partir das 14h, no espaço do PETI – comunidade remanescente de quilombo de São Braz – Santo Amaro BA.

A resistência continua!
Salve Altino da Cruz, Maria do Paraguaçu, Zumbi dos Palmares...

terça-feira, 13 de julho de 2010

On june 6 2010, Diego Giménez Moreno, veteran of the Spanish Civil War

On june 6 2010, Diego Giménez Moreno, veteran of the Spanish Civil War, has passed away in the city of São Paulo, Brazil. He was 99 years old and had Parkinson's syndrome.



Diego Giménez was born in april 10 1911 in Jumilla, Murcia, and entered the Spanish anarchist movement after the death of his father, when he was 17. Through the Federación Ibérica de Juventudes Libertárias he got in touch with the ideas of libertarian naturism, adopting vegetarianism and drug-free living. In 1931, Diego joined the CNT and became the secretary of the local Syndicate of Graphical Arts. Five years later, he would participate in the most successful event in anarchist history, the Spanish Revolution, joining the legendary Columna Durruti in the fight against fascism. After the defeat of the popular front to the Fracoist forces, Diego was arrested and sent to the concentration camp of Mauthausen, Austria, from which he managed to escape to France. He moved to São Paulo in 1942 and became a militant of the local anarchist groups Sociedade Naturista Amigos de Nossa Chácara (Friends of Our Farm Naturist Society) and Centro de Cultura Social (Center of Social Culture).



Diego was very dear to the Brazilian anarchist movement. His speeches on the civil war and his defense of minimal consumption and sobriety had a huge influence on younger and older anarchists and anarcho-syndicalists. Some of his thoughts can be found in the books Mauthausen: Campo de Concentração e de Extermínio, Três Depoimentos Libertários, and Anarquistas: Ética e Antologia de Existências. Diego also wrote articles to the French anarchist journal Le Combat Syndicaliste. The history of his struggle remains an inspiration to the entire movement. His experience, moral strength, and character will be missed.



We must give up today's unhealthy behaviors. We are not defending our interests, but those of the capital. We must be like the snake who gets rid of her old skin in order to have a new one.

Diego Giménez Moreno



You can read an interview Diego Giménez gave to FOSP/COB-AIT here:

http://fosp.anarkio.net/cmanarca/Entrevista_Diego_Gimenez_Moreno.pdf (In portuguese)





quarta-feira, 16 de junho de 2010

[AIR-DF] Carta do líder Carlos Pankararu


Carta de Carlos Pankararu sobre os acontecimentos do dia 12 de junho no AIR.


Infelizmente um grupo de índios aceitou acordo com a Funai. A Funai, como sempre, mentindo que vai abrir Postos e Administrações no Maranhão e Pernambuco, histórias que já conhecemos desde o início do ano, porém nada cumpriu. Esses que foram para os hotéis da Funai não foram enganados, porque esta cena aconteceu em janeiro e em outras épocas também. Onde sempre pediram para os índios voltarem para suas aldeias e abrir postos e administrações, porém nunca realizaram-se, porque o Decreto agora é a nível da Presidência da República e não do presidente da Funai, nem do Ministério da Justiça. Sabemos que eles não vão abrir Postos nem Administrações de forma passiva porque o interesse do governo é com o PAC e todos nós sabemos que o Decreto 7.056 é a porta aberta para o desenvolvimento do PAC em terras indígenas. Se, por um acaso, eles abrirem Pernambuco e Maranhão eles são obrigados a abrir todos os Postos e Administrações do Brasil, porque os direitos são iguais e eles sabem disso. Existem vários projetos governamentais tramitando no Congresso Nacional para serem concluídos em terras indígenas. Vamos citar alguns deles: hidrelétricas, mineração, rodovias, sequestro de carbono, isto sem consultar as comunidades indígenas, assim como fizeram para aprovar o Decreto 7.056. Por este motivo, eu, Carlos Pankararu, junto com alguns guerreiros como Kretan Kaingang, cacique Valdir Kaingang, cacique Valdete Krahô, Korubo, Lúcia Munduruku, Adriano Karipuna e mais alguns, ingressamos nessa luta desde janeiro, na esperança de uma nova política indígena onde nossos direitos fossem prevalecidos e fazessemos que esses governantes nos respeitassem de forma como manda a Constituição Brasileira e as leis internacionais. Não somos contra o progresso, mas somos contra a forma que querem fazer as negociações injustas, quase comparada à um assalto a mão armada.

Eu e o grupo que ficamos na resistência estamos tristes e chateados com a covarde atitude dos nossos parentes, porque não era esse o nosso plano. O nosso plano é revogar o Decreto ou no mínimo, negociar pontos que prejudicam a população indígena brasileira. E também exonerar o presidente da Funai por estar violando os nossos direitos. O assessor do Presidente da República, Paulo, ex-funcionário do CIMI, se retirou logo após a miha chegada, basicamente 11 horas da manhã de sábado. Eu pedi para que ele conversasse comigo, mas ele saiu andando com medo por ser um covarde e dizendo em alta voz que eu estava usando o povo. Dizendo que eu morava em Brasília, respondi que moro em Brasília ou em qualquer lugar do Brasil. O livre arbítrio do ser humano também está na Constituição Brasileira e na Bíblia Sagrada. Eu estou aqui lutando pela minha mãe, meus irmãos, meus tios, meus primos, por todos Pankararu e índios do Brasil e pelos meus direitos, pois sou um Pankararu, não fiz transfusão de sangue nem deixei de ser Pankararu apenas por estar em Brasília, posso voltar à aldeia quando quiser, por isso fico aqui e lá. Tenho certeza de que o Paulo também não é filho de Brasília, como o Lula, que não é de Brasília nem paulista, é de Pernambuco, e quem fala alguma coisa por ele ser pernambucano? Gostaria que ele me provasse quanto ele ou o Presidente Lula ou o ministro da Justiça já me pagou para que eu formasse esse movimento. O Aluizio, diretor da Assistência também estava com o Paulo negociando a desmobilização, mas não me preocupo, as denúncias estão em todas as áreas da Justiça. Além das OABs dos estados do Paraná, de Tocantins e outros estados. O Acampamento Revolucionário entrou com ação na OAB nacional. Além do mais, temos 5 projetos de revogação por 5 deputados federais. Temos também ações no Senado Federal, estou acreditando na mudança mesmo com esta situação. Porque muitos índios estão chegando nessa semana do Nordeste, do Sul e do Centro-Oeste. Não falo o nome das etnias, para evitar ação dos manipuladores. O Acampamento vai continuar porque não está lutando apenas por Pernambuco ou Maranhão, mas sim por todos os índios do Brasil. Estou aguardando o líder Arão da Providência Guajajara e Kretan Kaingang para decidirmos como vamos agir de agora em diante. São essas as minhas palavras! E viva a Resistência Indígena! E que Tupã o abençoe todos.


terça-feira, 8 de junho de 2010

POLÍCIA FEDERAL PRENDE MÃE E BEBÊ TUPINAMBÁ



A Polícia Federal prendeu na tarde de hoje, feriado de Corpus Christi, a índia Glicéria Tupinambá e seu filho de apenas (02) dois meses. Glicéria é liderança de seu povo e membro da Comissão Nacional de Política Indigenista – CNPI. Vinculada ao Ministério da Justiça, a CNPI tem entre seus integrantes representantes de 12 ministérios, 20 lideranças indígenas e dois representantes de entidades indigenistas. Na tarde de ontem, 2 de junho, Glicéria participou da reunião da CNPI com o Presidente Lula, oportunidade em que denunciou as perseguições de que as lideranças Tupinambá têm sido vítimas por parte da Polícia Federal no Sul da Bahia.

No dia seguinte, quando tentava retornar para sua aldeia, Glicéria – tendo ao colo o seu bebê de dois meses – foi detida ao descer do avião, ainda na pista de pouso do aeroporto de Ilhéus (BA), e diante dos demais passageiros, por três agentes da Polícia Federal, numa intenção clara de constrangê-la. O episódio foi testemunhado por Luis Titiah, liderança Pataxó Hã-hã-hãe, também membro da CNPI, que a acompanhava.

Após ser interrogada durante toda a tarde na sede Polícia Federal em Ilhéus, sempre com o bebê ao colo, Glicéria recebeu voz de prisão da delega Denise ao deixar as dependências do órgão. Segundo informações ainda não confirmadas, a prisão foi decretada pelo juiz Antonio Hygino, da Comarca de Buerarema (BA), sob a alegação de Glicéria ter participado no seqüestro de um veículo da META (empresa que presta serviço de energia na região). Esse juiz em entrevista concedida ao repórter Fábio Roberto para um jornal da região, se referiu aos Tupinambá como “pessoas que se dizem índios”. Mãe e filho serão transferidos para um presídio na cidade de Jequié, distante cerca de 200km de sua aldeia.

Desde que a FUNAI iniciou o processo de demarcação da Terra indígena Tupinambá as fazendas invasoras da terra indígena passaram a contratar pistoleiros, fazendeiros dos municípios de Ilhéus e Buerarema iniciaram campanhas difamatórias nas rádios e jornais locais, incitando a população regional contra os índios, o que resultou numa série de conflitos envolvendo pistoleiros, fazendeiros e indígenas. Como conseqüência da disputa pela posse da terra os Tupinambá respondem a uma série de inquéritos e processos criminais patrocinados pela Polícia Federal, numa estratégia clara de criminalização de sua luta legítima em defesa de seu território tradicional. Em decorrência dessa ofensiva de criminalização já estão presos os indígenas Rosivaldo (conhecido como cacique Babau) e Givaldo, irmãos de Glicéria que passa a ser terceira presa política Tupinambá.

A animosidade nutrida pela Polícia Federal em relação aos Tupinambá já se tornou crônica. No dia 23 de outubro de 2008, numa ação extremamente agressiva, a PF atacou a comunidade indígena da Serra do Padeiro, deixando 14 Tupinambá feridos à bala de borracha, destruiu casas e veículos da comunidade, a escola indígena e seus equipamentos, e ainda deteriorou a merenda escolar. Dois Tupinambá foram presos na ocasião. Em junho de 2009, após outra ação de agentes da PF juntamente com fazendeiros - numa ação de reintegração de posse -, sinais de tortura em cinco Tupinambá ficaram comprovados por exames de corpo de delito realizados no Instituto Médico Legal do Distrito Federal. O inquérito, levado a cabo pelo mesmo delegado que coordenou a ação dos agentes, concluiu entretanto pela inocorrência de tortura. Nenhum dos agentes foi afastado durante ou após as investigações. No dia 10 de março de 2010, numa ação irregular, a Polícia Federal invadiu a residência do cacique Babau em horário noturno (duas horas da madrugada), destruindo móveis e utilizando extrema força física para imobilizar o Cacique, que acreditava estar diante de pistoleiros, pois os agentes estavam camuflados, com os rostos pintados de preto, não se identificaram e não apresentaram mandado de prisão, além de proferir ameaças e xingamentos.

O Conselho Indigenista Missionário, preocupado com a integridade física e psicológica de Glicéria e seu filho, vem a público manifestar mais uma vez o seu repúdio ao tratamento dispensado por órgãos policiais e judiciais ao Povo Tupinambá. Reafirma seu compromisso em continuar apoiando a luta justa do povo pela demarcação de seu território tradicional e conclama a sociedade nacional e internacional a se manifestar em defesa da causa Tupinambá e pela imediata libertação de seus líderes.

Brasília, 3 de junho de 2010.

Conselho Indigenista Missionário – Cimi

Por uma democracia social com partidos políticos de outro tipo: ancestralidade e desenvolvimento - 4



Mikhael Guerdjikov, nascido em 26/01/1877, falecido em 18/03/1947, mais conhecido militante e referente da Federação Anarquista Búlgara, fundada em 1919. Esta federação foi modelo de organização de quadros vinculada às lutas de massas no apoio da libertação nacional contra a ocupação do Império Otomano.

recollectionbooks

08 de junho de 2010, da Vila Setembrina de Lanceiros Negros traídos por latifundiários no Massacre de Porongos, Bruno Lima Rocha

Concluímos esta pequena série de quatro artigos de difusão científica voltada para o pensamento político organizativo, apresentando tanto as raízes desse modelo de partido como também uma possibilidade de desenvolvimento orgânico do mesmo.

A ancestralidade do modelo de organização aqui desenvolvido

O modelo que apresentamos nesta série em particular e nas obras em geral não se trata de uma novidade para o universo da política. Se são novos ou inexistentes os estudos sobre o tema, se esta forma do fazer político não se transformara em objeto estudo, isto se deu devido à correlação de forças no interior das esquerdas, a passagem desta correlação para o campo acadêmico e da óbvia conseqüente ausência de transposição dos debates travados na esquerda mundial para o universo da cultura letrada e com bases cientificistas. Como já foi dito em textos anteriores desta série, este modelo aborda a organização política de militantes especificamente aderentes a um corpo ideológico-doutrinário. Por não ser de massas, em contraposição, está no formato de quadros, sem filiação aberta e cujo grau de compromisso dá-se através dos círculos concêntricos. Na estruturação interna, dentro da Teoria da Interdependência das 3 Esferas, a divisão a forma orgânica tem sua equivalência na esfera jurídico-político-administrativa.


domingo, 6 de junho de 2010

“Diego Giménez Moreno – Um Exemplo de Atuação Anarquista”

Negando a oportunidade de ter uma vida cômoda dentro da sociedade capitalista, a trajetória de Diego Giménez Moreno no movimento anarquista foi edificada com dedicação, coerência, força de vontade e muita coragem para lutar contra a violência, a repressão, a injustiça, as ditaduras (de direita e de esquerda) e toda espécie de obstáculos que se apresentaram no decorrer do caminho.

Viver clandestinamente, abdicar da companhia de seus familiares, abandonar seu país de origem, ser julgado e condenado a ser preso em campos de refugiados (construídos com dinheiro público), foi o preço que Diego teve que pagar por semear as idéias libertárias de igualdade e solidariedade humana.

Diego Giménez Moreno nasceu no dia 10 de abril de 1911, na Vila de Jumilla, província de Murcia. Filho mais velho de Maria Moreno Muñoz e de Diego Giménez Guardiola, seu pai era trabalhador rural e filiado a União Geral dos Trabalhadores (U.G.T.). Na residência familiar viviam também seu irmão (Roberto Giménez Moreno), suas irmãs (Ana Giménez Moreno e Maria Giménez Moreno, essa última ainda viva) e sua avó materna (Ana Muñoz Avellán).

Na infância Diego Giménez estudou em uma escola pública em Jumilla, onde havia aulas religiosas. Certa vez, o professor castigou fisicamente Diego por não ter respondido uma pergunta sobre o catecismo. Ao informar o episódio ao seu pai, Diego foi transferido para uma escola do sindicato, onde seu pai era filiado. Estudou até os 8-9 anos e foi ajudar seu pai no trabalho agrário.

Na seqüência, a família de Giménez fixou residência em Badalona (Barcelona-Catalunha), buscando melhores condições de trabalho.

Inicialmente, Diego (aos 12 anos) começou a trabalhar numa fábrica de velas, para ajudar seu pai que trabalhava na empresa francesa Cros de produtos químicos. Pouco tempo depois Diego já estava trabalhando na empresa italiana Metagraf, que reunia trabalhadores gráficos e metalúrgicos.

Nessa época, seu pai trouxe o livre “Manolín – Leyenda Popular” de Estéban Beltrán Morales (4ª edição, 1910, Espanha) e esta foi sua primeira leitura socialista.

Em 1928, Diego Giménez (com 17 anos) perdeu seu pai, que morreu aos 42 anos por intoxicação aos produtos químicos com os quais trabalhava e se tornou o homem mais velho de sua família, redobrando sua responsabilidade.

Após o final da ditadura espanhola (1923-1930) e das eleições de 14 de abril de 1931, com a vitória do Partido Republicano, surgiram diversas publicações de caráter anarquista, das quais Diego Giménez Moreno teve acesso, entre elas: La Novela Ideal (de Federico Urales, Pseudônimo de Juan Montseny), La Revista Blanca, El Luchador, Generación Consciente (posteriormente Estudios) e a partir dessas leituras sobre pedagogia libertária, medicina natural, educação ambiental, tecnologia, entre outros, tornou-se anarquista e começou a militar no Sindicato das Artes Gráficas, onde tornou-se tesoureiro, secretário e depois presidente do Sindicato.

Nas palavras do próprio Giménez: “Fui presidente do Sindicato das Artes Gráficas e isso não é um orgulho para mim! Não é um prêmio! É uma obrigação que eu tive no terreno do sindicalismo... Durante a guerra civil, tentei deixar meu cargo e não me permitiram. Naquela noite chorei... Chorei sim, na assembléia, porque vi que eles queriam que permanecesse ali”.

Em 1934, Diego se casou com Maria Roger Aguilar, e no ano seguinte nasceu seu primeiro filho Helios Giménez Roger.

Em 17 de julho de 1936, quando o exército do general Franco se levantou contra a República e Barcelona se insurgiu contra o golpe de Estado, Diego Giménez Moreno participou da revolução armada nas ruas.

No dia 26 de julho de 1936, o Sindicato de Barcelona proclamou a volta ao trabalho. Na fábrica onde Diego trabalhava (Metagraf) juntamente com cerca de mil operários, o patrão fugiu e nomeou-se um comitê autogestionário composto por um trabalhador de cada secção industrial, para dar continuidade ao trabalho fabril. Diego coordenou uma pequena secção na indústria de embalagens.

Em setembro de 1937, Diego Giménez chegou ao front de guerra, a 30 quilômetros de Zaragoza (capital de Aragão) na Brigada 21 da Coluna Durruti, setor Bajo Abril. O capitão, que era um amigo e companheiro anarco-sindicalista, queria enviar Diego para a Escola de Guerra em Barcelona e em três meses ele voltaria com grau de tenente. Diego comenta o episódio: “Eu falei para o capitão que ele sabia que nós não havíamos sido educados para isso e, portanto, não aceitei o convite. Hoje eu estaria recebendo um salário mensal de tenente, é um dinheiro, não? Mas eu não estou preocupado, eu fiz o que minha consciência anárquica me aconselhava”.

Segundo o próprio Diego, o setor onde ele estava “não era um lugar de luta constante porque não tínhamos armas suficientes para o enfrentamento. Não recebemos ajuda, nem fuzis, passamos meses nessa situação”. Posteriormente, esse grupo foi substituído pelas Brigadas Internacionais e a nova linha de defesa passou a ser em Montsec (Lérida), província de Catalunha. Diego fez parte de um grupo de defesa contra gazes na Brigada 21 da 26ª Divisão (antiga Coluna Durruti), que além de conservar o equipamento, treinava a utilização de máscaras, simulando situações de emergência, e transmitia esses conhecimentos para grupos de soldados em hora de descanso.

Em 20 de novembro de 1938, durante as homenagens do segundo ano da morte do anarquista Buenaventura Durruti, ao sair de madrugada para Barcelona, Diego foi ferido com um tiro e, após os primeiros socorros, levado para um hospital na cidade de Manresa (Bages-Barcelona). Foi justamente quando recomeçou a ofensiva franquista, chegando muitos feridos neste hospital.

Diego foi evacuado para o Monastério de MontSerrat (Bages-Barcelona), onde ficou por quinze dias e depois o levaram para Santo Hilário, recebendo a visita de sua mãe e esposa.

Em dezembro de 1938, com o avanço dos fascistas, Diego foi levado para o hospital de Ripoll (Barcelona-Catalunha), onde ficou mais 15 dias e seguiu para Puigcerda (Gerona-Catalunha), depois Bourg-Madame (já na França) e de trem até Auch (Gers-França), num quartel que tinha sido adaptado para um hospital.

No dia 31 de abril de 1939 (final da guerra civil espanhola), Diego foi enviado para o Campo de Refugiados Sept Fonds, e lá esteve (entre outros) com um companheiro de 16 anos chamado Juan.

Em Sept Fonds, pode manter correspondência com a família, porém, esteve o tempo todo mal alojado (não tinha leito para dormir, entre outras coisas) e tinha acesso a pouco alimento.

Durante alguns meses, participou de uma companhia de trabalho na construção de uma estrada de ferro entre as cidades de Le Mans (capital de Sarthe) e Le Loar, e outra nas proximidades de Bourdeaux (capital de Aquitania).

Em 1940, quando os alemães invadiram Bordeaux, Gimenez foi transferido para um campo de refugiados em Le Vernet (Ariège) e depois Melilesben, onde pode visitar os companheiros Fernando e Aurora, em Pamiers (Ariége).

Diego trabalhou ainda no rescaldo do rio Tet (sul da França) e na construção de uma central elétrica.

No dia 12 de fevereiro de 1942, Giménez saiu clandestinamente em direção a fronteira da Espanha. Sua companheira, Maria Roger Aguilar, havia lhe informado que a polícia espanhola não sabia de sua atuação sindicalista (naquela conjuntura social, participar de sindicato era considerado crime) e, portanto, não constava nenhuma punição contra ele.

Diego foi até a cidade de Figueras (Gerona-Catalunha), onde a polícia o levou algemado até um quartel de Barcelona. Ficou durante dez dias num Campo de Depuração em Reus (Tarragona-Catalunha) e foi libertado em 24 de fevereiro de 1942, quando pode novamente se reunir com sua esposa, seu filho e sua filha Luz Giménez Roger.

Em Barcelona trabalhou 10 anos em uma fábrica onde a carga horária chegava até 16 horas por dia. A situação econômica era muito difícil e mesmo com o trabalho de sua companheira, de seu filho (com 16 anos) e de sua filha (com 12 anos) não era o suficiente para superar as dificuldades.

No dia 16 de março de 1946, nasceu sua nova filha, Rosa Giménez Roger, e no dia 10 de abril de 1952, Diego resolveu embarcar para o Brasil com seu filho. Quinze dias depois, chegaram ao Porto de Santos.

Fixaram residência na Vila Santa Clara, na cidade de São Paulo, e em poucos dias, Diego e seu filho já estavam trabalhando.

Após oito meses, a esposa e as duas filhas puderam também imigrar para o Brasil.

Por intermédio de um amigo (Joaquim Vergara), Diego fez contato com a Sociedade Naturista Amigos de Nossa Chácara (que na época, era o local onde se realizava os Congressos Anarquistas no Brasil) e com o Centro de Cultura Social, desde então contribuindo e participando das atividades de ambos.

Entre 1972-1973, escreveu artigos para o periódico anarquista “Le Combat Syndicaliste” (Paris-França), com os pseudônimos de “El Buscador” e “El Exiliado”. E em 5 de outubro de 1975, escreveu e publicou em português (dividindo a autoria com seu irmão Roberto Giménez Moreno) o livro “Mauthausen – Campo de Concentração e de Extermínio” (tiragem de 2.300 exemplares), pela Ediciones HispanoAmericanas no Brasil.

Diego Giménez Moreno também proferiu diversas conferências em São Paulo (a maioria no Centro de Cultura Social) e em outras cidades paulistanas, sobre sua experiência libertária na guerra civil espanhola, assim como procurou sempre estar em contato com os jovens.

Um forte traço do caráter de Giménez é sua irrefutável autonomia, sendo adversário ferrenho do tabagismo e do alcoolismo. O vício constitui uma fraqueza de vontade e, por sua vez, o consumo de álcool e tabaco, além de prejudicar a saúde, fortaleça a indústria dessas drogas e do próprio capitalismo.

Nas palavras de Diego: “Ao comprar cigarro e álcool você está alimentando o patrão, que se aproveita de sua debilidade”.

Também é adepto do vegetarianismo, afirmando ter sido influenciado pelos escritos do dr. Isaac Puente Amestoy (C.N.T.– F.A.I.), na revista Estudios.

Assim como outros de sua geração, Diego segue um velho lema anarquista: “Enquanto vivermos sob o capitalismo, devemos consumir o mínimo necessário”.

Hoje, aos 96 anos de idade, Diego Giménez vive em São Bernardo do Campo (São Paulo-Brasil), e com o mesmo vigor que combateu os fascistas na revolução espanhola, combate agora um novo inimigo: o mal de Parkinson.

Marcolino Jeremias.

Livros que falam sobre a trajetória anarquista de Diego Giménez Moreno:

- “Mauthausen – Campo de Concentração e de Extermínio”, de Giménez Moreno, Ediciones HispanoAmericanas, São Paulo – Brasil, 1975;

- “Três Depoimentos Libertários”, Entrevistas com Diego Giménez Moreno, Jaime Cubero e Edgar Rodrigues, Editora Achiamé, Rio de Janeiro – Brasil, 2002;

- “Anarquistas: Ética e Antologia de Existências”, de Nildo Avelino, Editora Achiamé, Rio de Janeiro – Brasil, 2004.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Faleceu o Anarquista Diego Gimenez Moreno


Morreu na tarde de hoje (02/06/2010), aos 99 anos, o anarquista, ex-combatente da guerra civil espanhola e militante do Centro de Cultura Social de São Paulo, Diego Gimenez Moreno.
Nascido em 10 de abril de 1911, em Jumilla, província de Múrcia, Diego engaja-se aos 17 anos no movimento anarquista espanhol e em seguida na Guerra Civil. Ferido em combate, é hospitalizado e em seguida, com a vitória franquista, encarcerado no campo de concentração Mauthausen, na Áustria. Uma experiência que descreveu no seu livro Mauthausen – campo de concentração e de extermínio (São Paulo, Edições Hispanoamericanas, 1975, 236pp). Escapa para França, chegando em seguida ao Brasil em 1942, onde participa ativamente das atividades anarquistas na cidade de São Paulo.

Diego trazia um mundo novo em seu coração. Durante uma conferência no CCS pronunciada em 2001, declarou: “O patrão não se discute, suprime-se!” Exemplo de uma existência libertária, deixa um enorme vazio; mas parte após ter semeado muitas primaveras.

Mesmo subtraído ao olhar dos amigos, sua glória perdura na nossa memória, pois a recordação dos grandes homens não é menor que sua presença.

Quando morre um anarquista
Se quebra uma lança
Uma flor seca
Choram os homens íntegros


Quando morre um anarquista
Algo se apaga
O ar desaparece
Se reúnem as estrelas
E o acompanham
Na última viagem


Quando morre um anarquista
A liberdade perde força
A justiça se afasta
A poesia se quebra
Adoece a esperança.


Quando morre um anarquista
Todos os párias do mundo
Morrem um pouco


A. Jimenez
agência de notícias anarquistas



quarta-feira, 2 de junho de 2010

MOÇÃO DE REPÚDIO AO III BAHIA AFRO FILM FESTIVAL - BAFF



Em defesa da luta negra e quilombola por terra, justiça e liberdade!

Nesta edição do III Bahia Afro Film Festival (BAFF) que ocorre nas dependências do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) em Cachoeira, mais uma vez o corpo e as representações culturais das populações negras estão sendo tratadas como mercadoria.

O filme Maria do Paraguaçu, de Camila Dutervil, que retrata a luta de uma comunidade localizada no recôncavo da Bahia, mais precisamente em Cachoeira, tem como objetivo a divulgação de um povo que luta pela permanência em seu território, sendo este a base das suas práticas culturais, que dão fundamento a existência desse grupo enquanto comunidade tradicional.

Denunciamos que no ato de exibição do filme este teve sua legenda em português substituída pelo inglês numa clara intenção de evitar que fossem evidenciados os processos de luta da comunidade, bem como os conflitos provocados pelos fazendeiros locais. Esta atitude desrespeitosa impediu que os telespectadores tivessem acesso às informações centrais do filme pelo fato de que se tratava de uma linguagem que acabou por descontextualizar o mesmo.

Salientamos que a luta pela sobrevivência desta comunidade, ganhou maior visibilidade após a certificação de auto-reconhecimento da comunidade como remanescente de quilombo expedida pela Fundação Cultural Palmares (FCP). Como decorrência, foram iniciadas, por parte dos fazendeiros, perseguições e várias investidas para desmobilizar a luta desta população que reivindica o seu direito ao título do território garantido pelo art. 68 do ADCT – Constituição Federal de 1988.

Em meio a este conflito fundiário que foi iniciado em novembro de 2005, duas lideranças da comunidade morreram em 2009, (vitimas: Maria das Dores e Altino da Cruz). Outras tantas são constantemente ameaçadas de morte.

Este festival que era visto como meio de divulgar a luta desta comunidade quilombola, decepciona. O filme não alcançou o objetivo de fortalecimento desta comunidade, uma vez que, o final deste foi exibido em inglês, perdendo seu sentido, pois, é exatamente neste momento que a informação é visualizada.

Considerando as tamanhas contradições, arbitrariedades e desrespeitos, nós assinantes viemos por meio desta Moção de Repudio, exigir que o filme em sua versão original (em Português) seja exibido neste Festival; bem como cobrar uma postura da Direção do Centro e da Reitoria da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB.

Em solidariedade e rebeldia,

- Acampamento Remanescente - Embarracados no CAHL

- Núcleo de Negras e Negros Estudantes do CAHL – NNNE

- República Quilombo

- Associação dos Remanescentes do Quilombo do São Francisco do Paraguaçu – BOQUEIRÃO

- Associação Quilombo do Orobu – Quilombo Educacional

- Coletivo de Mobilização do CAHL

ESTUDANTES OCUPAM UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA


Desde o início deste semestre as contradições vividas na UFRB, e particularmente no CAHL, que já eram grandes passaram a ser maiores. A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia é uma das “experiências” do REUNI (Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) do Governo Federal e aderiu integralmente ao novo ENEM/SISU. Para o Governo Lula aumentar o acesso a universidade pública tem sido apenas aumentar o número de vagas, investindo o mínimo em infra-estrutura e com nenhuma preocupação no que diz respeito às políticas de permanência.

O processo de luta iniciado pelos estudantes acampados no CAHL começou por um motivo simples e concreto: não temos condições de ir e voltar todos os dias para as nossas cidades ou pagar um aluguel aqui em Cachoeira. A administração da UFRB e a Propaae “lavaram as mãos” diante dessa situação.

Sabemos que os problemas de moradia, de transporte e permanência atingem também muitos outros estudantes, não apenas os que estão acampados. Portanto, a mobilização para avançar rumo a novas conquistas deve ser ampla. A Assembléia Geral de Estudantes do CAHL (do dia 7 de abril), chamada pela Plenária ampliada do Acampamento, deu início a um processo de luta e organização e definiu algumas bandeiras (ver pauta no verso no blog: http://acampamentoremanescente.blogspot.com/). Agora temos que tocar o nosso processo de mobilização e construir espaços coletivos de discussão e decisão, fazendo da luta de todos/as, uma luta cada vez mais abrangente. Precisamos partir de uma perspectiva horizontal, independente e combativa, tendo a ação direta como método de luta.

Nossa luta, além das questões urgentes e imediatas é também uma luta contra a educação de mercado, pois o conhecimento não deve estar a serviço da lógica do capital. Queremos uma Universidade Popular, a serviço de quem realmente a sustenta, os trabalhadores e as trabalhadoras, os oprimidos e explorados. Uma Universidade de e para todos, que produza conhecimento para a libertação, construída com o povo.

Que a indignação rompa com a apatia! Reivindicar e rebelar-se é justo, e mais que isso, é legítimo! Só assim podemos realmente intervir na realidade em que vivemos e construir uma sociedade mais igualitária.