Negando a oportunidade de ter uma vida cômoda  dentro da sociedade capitalista, a trajetória de Diego Giménez Moreno no movimento anarquista foi edificada com dedicação, coerência, força de vontade e  muita coragem para lutar contra a violência, a repressão, a injustiça, as  ditaduras (de direita e de esquerda) e toda espécie de obstáculos que se  apresentaram no decorrer do caminho.
   
Viver clandestinamente, abdicar da companhia de  seus familiares, abandonar seu país de origem, ser julgado e condenado a ser  preso em campos de refugiados (construídos com dinheiro público), foi o preço  que Diego teve que pagar por semear as idéias libertárias de igualdade e solidariedade humana.
   
Diego Giménez Moreno nasceu no dia 10 de abril de  1911, na Vila de Jumilla, província de Murcia. Filho mais velho de Maria Moreno  Muñoz e de Diego Giménez Guardiola, seu pai era trabalhador rural e filiado a  União Geral dos Trabalhadores (U.G.T.). Na residência familiar viviam também  seu irmão (Roberto Giménez Moreno), suas irmãs (Ana Giménez Moreno e Maria  Giménez Moreno, essa última ainda viva) e sua avó materna (Ana Muñoz Avellán).
    
Na infância Diego Giménez estudou em uma escola  pública em Jumilla, onde havia aulas religiosas. Certa vez, o professor castigou fisicamente Diego por não ter respondido uma pergunta sobre o catecismo.  Ao informar o episódio ao seu pai, Diego foi transferido para uma escola do sindicato, onde seu pai era filiado. Estudou até os 8-9 anos e foi  ajudar seu pai no trabalho agrário.
   
Na seqüência, a família de Giménez fixou residência  em Badalona (Barcelona-Catalunha), buscando melhores condições de trabalho.
    
Inicialmente, Diego (aos 12 anos) começou a  trabalhar numa fábrica de velas, para ajudar seu pai que trabalhava na empresa francesa  Cros de produtos químicos. Pouco tempo depois Diego já estava trabalhando na  empresa italiana Metagraf, que reunia trabalhadores gráficos e metalúrgicos.
    
Nessa época, seu pai trouxe o livre “Manolín – Leyenda Popular” de Estéban Beltrán Morales (4ª edição, 1910, Espanha) e esta foi sua primeira leitura socialista.
   
Em 1928, Diego Giménez (com 17 anos) perdeu seu  pai, que morreu aos 42 anos por intoxicação aos produtos químicos com os quais trabalhava e se tornou o homem mais velho de sua família, redobrando sua responsabilidade.
   
Após o final da ditadura espanhola (1923-1930) e  das eleições de 14 de abril de 1931, com a vitória do Partido Republicano,  surgiram diversas publicações de caráter anarquista, das quais Diego Giménez  Moreno teve acesso, entre elas: La Novela Ideal (de Federico Urales, Pseudônimo de  Juan Montseny), La Revista Blanca, El Luchador, Generación Consciente (posteriormente Estudios) e a partir dessas leituras sobre pedagogia libertária, medicina natural, educação ambiental, tecnologia, entre  outros, tornou-se anarquista e começou a militar no Sindicato das Artes  Gráficas, onde tornou-se tesoureiro, secretário e depois presidente do Sindicato.
   
Nas palavras do próprio Giménez: “Fui presidente do Sindicato das Artes Gráficas e isso não é um orgulho para mim! Não é um  prêmio! É uma obrigação que eu tive no terreno do sindicalismo... Durante a  guerra civil, tentei deixar meu cargo e não me permitiram. Naquela noite  chorei... Chorei sim, na assembléia, porque vi que eles queriam que permanecesse ali”.
   
Em 1934, Diego se casou com Maria Roger Aguilar, e  no ano seguinte nasceu seu primeiro filho Helios Giménez Roger.
   
Em 17 de julho de 1936, quando o exército do  general Franco se levantou contra a República e Barcelona se insurgiu contra o golpe de Estado, Diego Giménez Moreno participou da revolução armada nas ruas.
    
No dia 26 de julho de 1936, o Sindicato de  Barcelona proclamou a volta ao trabalho. Na fábrica onde Diego trabalhava  (Metagraf) juntamente com cerca de mil operários, o patrão fugiu e nomeou-se um  comitê autogestionário composto por um trabalhador de cada secção industrial,  para dar continuidade ao trabalho fabril. Diego coordenou uma pequena secção na indústria de embalagens.
   
Em setembro de 1937, Diego Giménez chegou ao front  de guerra, a 30 quilômetros de Zaragoza (capital de Aragão) na Brigada 21  da Coluna Durruti, setor Bajo Abril. O capitão, que era um amigo e  companheiro anarco-sindicalista, queria enviar Diego para a Escola de Guerra em  Barcelona e em três meses ele voltaria com grau de tenente. Diego comenta o  episódio: “Eu falei para o capitão que ele sabia que nós não havíamos sido  educados para isso e, portanto, não aceitei o convite. Hoje eu estaria recebendo  um salário mensal de tenente, é um dinheiro, não? Mas eu não estou  preocupado, eu fiz o que minha consciência anárquica me aconselhava”.
   
Segundo o próprio Diego, o setor onde ele estava  “não era um lugar de luta constante porque não tínhamos armas suficientes  para o enfrentamento. Não recebemos ajuda, nem fuzis, passamos meses nessa situação”. Posteriormente, esse grupo foi substituído pelas Brigadas Internacionais e a nova linha de defesa passou a ser em Montsec  (Lérida), província de Catalunha. Diego fez parte de um grupo de defesa contra  gazes na Brigada 21 da 26ª Divisão (antiga Coluna Durruti), que além de conservar  o equipamento, treinava a utilização de máscaras, simulando situações de emergência, e transmitia esses conhecimentos para grupos de soldados em  hora de descanso. 
   
Em 20 de novembro de 1938, durante as homenagens do  segundo ano da morte do anarquista Buenaventura Durruti, ao sair de madrugada  para Barcelona, Diego foi ferido com um tiro e, após os primeiros socorros,  levado para um hospital na cidade de Manresa (Bages-Barcelona). Foi justamente  quando recomeçou a ofensiva franquista, chegando muitos feridos neste hospital.
    
Diego foi evacuado para o Monastério de MontSerrat (Bages-Barcelona), onde ficou por quinze dias e depois o levaram para  Santo Hilário, recebendo a visita de sua mãe e esposa.
   
Em dezembro de 1938, com o avanço dos fascistas,  Diego foi levado para o hospital de Ripoll (Barcelona-Catalunha), onde ficou mais  15 dias e seguiu para Puigcerda (Gerona-Catalunha), depois Bourg-Madame (já na  França) e de trem até Auch (Gers-França), num quartel que tinha sido adaptado  para um hospital.
   
No dia 31 de abril de 1939 (final da guerra civil espanhola), Diego foi enviado para o Campo de Refugiados Sept Fonds, e  lá esteve (entre outros) com um companheiro de 16 anos chamado Juan.
   
Em Sept Fonds, pode manter correspondência com a  família, porém, esteve o tempo todo mal alojado (não tinha leito para dormir,  entre outras coisas) e tinha acesso a pouco alimento.
   
Durante alguns meses, participou de uma companhia  de trabalho na construção de uma estrada de ferro entre as cidades de Le  Mans (capital de Sarthe) e Le Loar, e outra nas proximidades de Bourdeaux  (capital de Aquitania).
   
Em 1940, quando os alemães invadiram Bordeaux,  Gimenez foi transferido para um campo de refugiados em Le Vernet (Ariège) e depois Melilesben, onde pode visitar os companheiros Fernando e Aurora, em  Pamiers (Ariége).
   
Diego trabalhou ainda no rescaldo do rio Tet (sul  da França) e na construção de uma central elétrica.
   
No dia 12 de fevereiro de 1942, Giménez saiu clandestinamente em direção a fronteira da Espanha. Sua companheira,  Maria Roger Aguilar, havia lhe informado que a polícia espanhola não sabia de  sua atuação sindicalista (naquela conjuntura social, participar de sindicato  era considerado crime) e, portanto, não constava nenhuma punição contra ele.
    
Diego foi até a cidade de Figueras  (Gerona-Catalunha), onde a polícia o levou algemado até um quartel de Barcelona. Ficou durante  dez dias num Campo de Depuração em Reus (Tarragona-Catalunha) e foi libertado em  24 de fevereiro de 1942, quando pode novamente se reunir com sua esposa, seu  filho e sua filha Luz Giménez Roger.
   
Em Barcelona trabalhou 10 anos em uma fábrica onde a  carga horária chegava até 16 horas por dia. A situação econômica era muito  difícil e mesmo com o trabalho de sua companheira, de seu filho (com 16 anos) e de  sua filha (com 12 anos) não era o suficiente para superar as dificuldades.
    
No dia 16 de março de 1946, nasceu sua nova filha,  Rosa Giménez Roger, e no dia 10 de abril de 1952, Diego resolveu embarcar  para o Brasil com seu filho. Quinze dias depois, chegaram ao Porto de Santos. 
    
Fixaram residência na Vila Santa Clara, na cidade  de São Paulo, e em poucos dias, Diego e seu filho já estavam trabalhando.
   
Após oito meses, a esposa e as duas filhas puderam  também imigrar para o Brasil.
   
Por intermédio de um amigo (Joaquim Vergara), Diego  fez contato com a Sociedade Naturista Amigos de Nossa Chácara (que na época,  era o local onde se realizava os Congressos Anarquistas no Brasil) e com o  Centro de Cultura Social, desde então contribuindo e participando das atividades  de ambos.
   
Entre 1972-1973, escreveu artigos para o periódico anarquista “Le Combat Syndicaliste” (Paris-França), com os pseudônimos de “El Buscador” e “El Exiliado”. E em 5 de outubro de 1975, escreveu e publicou em português (dividindo a autoria  com seu irmão Roberto Giménez Moreno) o livro “Mauthausen – Campo de Concentração e de Extermínio” (tiragem de 2.300 exemplares), pela Ediciones HispanoAmericanas no Brasil.
   
Diego Giménez Moreno também proferiu diversas  conferências em São Paulo (a maioria no Centro de Cultura Social) e em outras cidades paulistanas, sobre sua experiência libertária na guerra civil espanhola,  assim como procurou sempre estar em contato com os jovens.
   
Um forte traço do caráter de Giménez é sua  irrefutável autonomia, sendo adversário ferrenho do tabagismo e do alcoolismo. O  vício constitui uma fraqueza de vontade e, por sua vez, o consumo de álcool e  tabaco, além de prejudicar a saúde, fortaleça a indústria dessas drogas e do  próprio capitalismo.
   
Nas palavras de Diego: “Ao comprar cigarro e álcool você está alimentando o patrão, que se aproveita de sua debilidade”.
    
Também é adepto do vegetarianismo, afirmando ter  sido influenciado pelos escritos do dr. Isaac Puente Amestoy (C.N.T.–  F.A.I.), na revista Estudios.
   
Assim como outros de sua geração, Diego segue um  velho lema anarquista: “Enquanto vivermos sob o capitalismo, devemos consumir o mínimo necessário”.
   
Hoje, aos 96 anos de idade, Diego Giménez vive em  São Bernardo do Campo (São Paulo-Brasil), e com o mesmo vigor que combateu  os fascistas na revolução espanhola, combate agora um novo inimigo: o mal  de Parkinson.
   
   
Marcolino  Jeremias.
   
   
   
   
Livros  que falam sobre a trajetória anarquista de Diego Giménez Moreno:
    
   
   
- “Mauthausen – Campo de Concentração e de Extermínio”, de Giménez Moreno, Ediciones HispanoAmericanas, São Paulo – Brasil, 1975;
   
   
- “Três Depoimentos Libertários”, Entrevistas com Diego Giménez Moreno, Jaime Cubero e Edgar Rodrigues, Editora  Achiamé, Rio de Janeiro – Brasil, 2002;
   
   
- “Anarquistas: Ética e Antologia de Existências”, de Nildo Avelino, Editora Achiamé, Rio de Janeiro – Brasil, 2004.