Historicamente  a sociedade brasileira foi construída através de variados processos de  subalternização do negro/a. Durante mais de três séculos, milhares de  africanos foram tirados de sua terra de origem, para servirem de força  de trabalho escrava no Brasil. Durante todo período colonial e imperial,  a sociedade brasileira se sustentou através da escravidão negra,  prática essa, que se fundava através de um cotidiano exercício da  violência, coação, exploração e humilhação da população escravizada.
      Com o fim da escravidão legal no Brasil, em 13 de maio de 1888, o  quadro de violências alterou-se, na medida em que as elites dirigentes,  aparelhadas com as teorias racialistas, organizaram-se para recriar as  hierarquias estabelecidas durantes os séculos de escravidão. Nesse  sentindo, o Estado-nação brasileiro, foi construído através de políticas  estatais, que visavam excluir e muitas vezes exterminar a população  negra aqui existente, com projetos de favelização, programas de  higienização, políticas de branqueamento e criminalização do negro/a e  suas manifestações religioso-culturais. Mas, nós resistimos.
 
      Nos fins dos anos 20, o protesto racial emerge fortemente em São Paulo,  propagando-se em outros estados da Federação; criam-se organizações,  com base na identidade racial cujo objetivo é projetar os negros/as  enquanto atores sociais. No final dos anos 40, o protesto reaparece no  Rio de Janeiro, sob a forma de um ambicioso projeto cultural - Teatro  Experimental do Negro - articulando-se psicodrama, valorização da  tradição afro-brasileira e propostas políticas com vistas a interferir  na reforma  constitucional.
 
      No final dos anos 70, uma nova onda de protestos, impulsionada por  organizações negras de diferentes estados da federação, dão início à  formação do Movimento Negro Unificado. Uma peculiaridade do Movimento  Negro/a do Brasil, está no fato de que além de combater o racismo em  todas as formas é preciso também desmistificar a idéia difundida de  “democracia racial”, ideologia essa, diluída em toda sociedade  brasileira, como constituinte de sua própria identidade nacional, dando  um tom “harmonioso” às relações raciais.
 
      Na universidade o combate ao racismo perpassa por críticas ao  conhecimento excessivamente eurocêntrico e pela organização da luta por  acesso e permanência da população negra ao ensino superior.  Fundamentados nesses eixos de atuação é que surge o movimento negro/a  universitário na sua forma de núcleos estudantis. As pautas dos núcleos  se somam às pautas gerais do movimento negro/a tendo como principal  conquista destes, em nível nacional, a adoção de políticas de cotas para  o acesso e permanência de estudantes negros/as. 
 
      Nessa conjuntura o negro/a passa a reivindicar o espaço político na  universidade pública, propondo alternativas epistemológicas em favor da  descolonização do conhecimento e o combate ao racismo na sociedade  brasileira. É nesse sentindo, que estudantes da Universidade Federal do  Recôncavo da Bahia, especificamente do Centro de Artes, Humanidades e  Letras, reúnem-se em abril de 2009, e desde então, vêem se organizando  de forma ativa e autônoma, com o intuito de discutir e militar em defesa  das populações negras, o combate ao machismo e outras lutas em favor  das maiorias subalternizadas. 
 
      O coletivo intitulado de Núcleo de Negras e Negros Estudantes (NNNE)  tem como compromisso, combater o racismo, o machismo e todas e quaisquer  formas de segregação, entendendo que essa ação de combate as  discriminações é de extrema importância para construção de uma sociedade  plenamente democrática.
 
     Nesse sentido, o NNNE é um coletivo de estudantes militantes que  atualmente  desenvolve trabalho de base nas comunidades periféricas na  cidade de Cachoeira-BA, além de constituir  uma rede de articulação com  outros movimentos sociais como  MST Recôncavo, MSTB, MOPEBA, MNU e  comunidades  Quilombolas da região. Somos maiss um elo da corrente  inquebrantável do movimento negro contemporâneo.
 
Núcleo de Negras e Negros Estudantes da UFRB